5 de abril de 2015

Eleições Reino Unido 2015: os cartazes em campanha negativa

As próximas eleições gerais, que se realizam a 7 de maio, no Reino Unido, continuam a ser palco de um intenso combate entre os dois principais partidos (Conservative e Labour), que desde outubro de 2014, continuam "colados" nas principais sondagens. A primeira investida, de forma a "marcar a agenda" surge do partido Conservador (Conservative Party), através de um cartaz com o candidato rival do partido Liberal, Ed Miliband, literalmente no bolso de Alex Salmond, líder do partido Nacionalista e primeiro-ministro da Escócia.


O jornal britânico The Guardian questionou vários especialistas para descobrir se uma campanha negativa poderá fazer alguma diferença e se os partidos políticos finalmente já dominam as "artes negras" da comunicação online.


Em resumo, as principais opiniões dos especialistas (tradução livre):  

"Haverá certamente coisas mais preocupantes para as pessoas do que o conluio de Salmond e Miliband no Nº10"
Sam Delaney, autor do livro Mad Men & Bad Men

Qualquer experiente consultor de comunicação política, tanto da esquerda como da direita, irá dizer a mesma coisa: uma grande campanha depende de se conseguir identificar uma mensagem central forte e repeti-la exaustivamente de uma forma que o público a ache atraente.
Um dos melhores exemplos de sempre, foi a campanha dos Conservadores de 1992, quando John Major desafiando todas as probabilidades, executou uma campanha que incidiu exaustivamente num problema que as pesquisas mostraram como um possível trunfo sobre os Trabalhistas (Labour Party): impostos. Os cartazes  Labour’s Tax Bombshell e Double Whammy elaborados pela brilhante equipa de campanha da Saatchi, definiu o tom da campanha nesse ano.

Para estas eleições, a mesma equipa parecia ter "apostado" no tema da chamada recuperação económica, como tema central. Até que surge este cartaz Salmond / Miliband. Em termos criativos, trata-se até ao momento, do melhor cartaz da campanha - expressa uma poderosa mensagem numa única e divertida imagem. Mas, estrategicamente não deixa de ser um pouco estranha. É a ameaça de um governo de coligação com o SNP (Partido Nacional Escocês), que realmente paira na mente do eleitorado indeciso? Parece ser pouco provável. Comunicar essa ideia apela ao sentimento de insegurança pelos postos de trabalho, mas haverá certamente coisas mais preocupantes para as pessoas do que o conluio de Salmond e Miliband no Nº 10.


"As pessoas estão mais propensas a receber uma mensagem entregue com humor, do que simplesmente, "disparada" na sua direcção"
Lord Tim Bell, executivo de publicidade que aconselhou Margaret Thatcher durante três campanhas eleitorais bem-sucedidas

Acho que o cartaz da Saatchi é um excelente anúncio para o partido Conservador: é simples, corajoso e gráficamente eficaz. É também muito engraçado. As pessoas estão mais propensas a receber uma mensagem entregue com humor, do que simplesmente, "disparada" na sua direcção. Na maior parte das vezes, aquilo que  os políticos dizem é muito aborrecido, se conseguirmos torna-lo engraçado, será mais fácil conseguir a atenção das pessoas.
Actualmente, é muito difícil estabelecer uma diferença entre um partido e o outro, porque ambos procuram ocupar o terreno central. Fica muito difícil para as pessoas perceberem claramente as políticas e ideias, e assim a sua decisão de voto recairá sobre a personalidade de cada um dos líderes. É por isso que este cartaz é tão bom: ele cai sobre a personalidade de Ed Milliband e Alex Salmond.
Hoje em dia penso que as pessoas são mais superficiais na forma como olham para as coisas. Respondem mais a imagens ao invés de frases longas, e as mídias sociais encorajam isso. No entanto, a mídia social é apenas um sistema de distribuição, e em última análise pouca coisa muda: continua a ser a mensagem que importa, vai para a consciência da pessoa e lá permanece.
Esta imagem resulta bem tanto em cartaz como nas mídias sociais, e espero que a Saatchi produza ainda mais.


"Aquilo que diz é que Cameron mais ou menos já desistiu de ganhar a maioria, o que pretende é mudar o tema"
Alastair Campbell, estratega que comandou três vitórias eleitorais do Partido Trabalhista (Labour)

Existiu um momento espectacular antes das eleições de 2001, quando eu e o publicitário Trevor Beattie fomos mostrar a Tony Blair o último anúncio de ataque desenvolvido contra os Conservadores. Ainda se deve lembrar dele. O cabelo de Margaret Thatcher na cabeça de William Hague, com o slogan: "Tenha medo. Tenha muito medo. "




TS Eliot definiu sagacidade como “the alliance of levity and seriousness by which the seriousness is intensified”. Esse foi um cartaz sagaz - sorria, mas perceba que este é um desagradável partido de direita que poderá estar a trazer de volta a menos que fique connosco. Compare-o com o cartaz "olhos do diabo" dos Conservadores em 1997 ou mesmo este cartaz de de Ed Miliband dentro do bolso de Alex Salmond.

Tudo o que envolve David Cameron é táctico, e não estratégico. Ele é um primeiro-ministro em exercício a tentar permanecer no cargo. Isso requer um trabalho para trás que possa defender, um plano para o futuro e ataques aos seus principais adversários. Uma vez que ele não é forte no ponto um e dois, ele centra-se principalmente no terceiro.

Mas o que nos diz este cartaz, ... é que ele (Cameron) mais ou menos já desistiu de ganha a maioria, e pretende mudar o tema para a coligação, pretendendo sugerir que o partido Trabalhista e o SNP juntos, seriam uma espécie de combinação letal, mas esquecendo-se sem dúvida que numa anterior "encarnação táctica"  permitiu aos Conservadores Escoceses uma coligação virtual com o SNP entre 2007 e 2011.

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