23 de março de 2014

A Lógica da Acção Colectiva




No livro A Lógica da Acção Colectiva, Mancur Olson, explica o comportamento de "indivíduos racionais", que se associam para a obtenção de algum benefício colectivo, procurando perceber como esses indivíduos agem através das organizações e a sua função na promoção de interesses comuns dos seus membros.


As organizações poderão, pois, desempenhar uma função importante, quando há interesses comuns a serem defendidos e embora frequentemente  possam servir interesses pessoais e individuais, a sua função básica será sempre de promover interesses comuns de grupos de indivíduos. 



Qualquer indivíduo só se associará e assumirá os custos pessoais dessa associação, a alguma organização, se ela oferecer algum benefício para além dos interesses comuns. Sendo um papel essencial da organização, a oferta de um benefício indivisível e geral com o intuito de angariar membros, deverá também fornecer benefícios individuais como incentivo potencial para conseguir a associação de um maior número de indivíduos.

Para Mancur Olson, mesmo que todos os indivíduos de um grupo sejam racionais e centrados nos seus próprios interesses, e que saiam a ganhar, se como grupo agirem para atingir os seus objectivos pessoais, estes nunca irão actuar voluntariamente para promover os interesses comuns e do grupo. Existem circunstâncias onde o indivíduo do grupo sabendo que o benefício colectivo não lhe será negado, independentemente de participar ou não, terá tendência a se escusar,  com o objectivo de aumentar o seu bem estar, deixando que os restantes membros do grupo, paguem pelos custos da sua obtenção.

A decisão de qualquer indivíduo racional, quanto à sua contribuição, para a obtenção do benefício colectivo depende, segundo Olson, dos custos da sua acção, que devem ser inferiores aos benefícios alcançados, dado que a participação do grupo na acção colectiva implica, para cada um dos indivíduos desse grupo, certos custos, como tempo, dinheiro, etc.

Em resumo:
Incentivos para contribuir = Custos da contribuição + Benefícios da contribuição
Custos da contribuição > 0
Benefícios da contribuição= 1/tamanho do grupo


Do ponto de vista da racionalidade colectiva, todos ganhariam, caso houvesse uma cooperação integral. Porém, de acordo com a racionalidade individual, a deserção poderá ser a estratégia que proporciona a recompensa mais vantajosa a cada indivíduo, independentemente dos outros membros do grupo cooperarem ou deixarem de cooperar. 

Assim, Olson caracterizou como "free rider"  (à boleia, pendura), os indivíduos que reduzem a zero o seu custo e desfrutam dos benefícios gerados pelo colectivo. Num cenário em que todos os membros de determinado grupo optassem por uma estratégia free rider, obviamente o bem colectivo deixaria de ser obtido.






Outro aspecto,  com influência na acção colectiva é o tamanho do grupo. Olson argumenta que, grupos de menor dimensão tendem a ter maior adesão por parte dos seus membros, entre os vários factores que o justificam está o facto de o benefício ser dividido por um número igualmente reduzido de participantes, sendo assim o benefício recebido mais significativo a cada membro do grupo.

Os grupos de maior dimensão estarão mais susceptíveis a não conseguirem atingir o seus objectivos, uma vez que o benefício será diluído de tal maneira que os custos individuais de participação são superiores aos benefícios alcançados e a não participação do indivíduo não apresentará grande impacto sobre o resultado final, como geralmente ocorre nos grupos de menor dimensão.

Nesta perspectiva, os grupos de maior dimensão tendem a possuir indivíduos menos participativos, mas que serão beneficiados pelos resultados alcançados pelo colectivo, daí a necessidade de algum tipo de "coerção" sobre os indivíduos "não-actuantes" ou proporcionar algum tipo de benefícios individuais/exclusivos, para aqueles que participarem da acção.

Uma oferta paralela de bens individuais/exclusivos, não necessariamente materiais, será um meio para estimular os menos participantes. De igual modo, os incitamentos morais e solidários desempenham uma função importante para fazer emergir a acção colectiva. Agir colectivamente  num grupo onde estão presentes os laços e redes de solidariedade,  confiança e amizade, pode constituir uma obrigação moral e de pertença para qualquer indivíduo. Perante este cenário, a não participação individual será mais difícil, dado que poderá por em causa a imagem e estima da pessoa perante si própria e os outros.

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