9 de maio de 2012

Análise dos gestos dos principais candidatos das Legislativas 2011

Por Jaime Martins Alberto
Versão original em: Sábado Online

Peter Collett, professor na Universidade de Oxford e maior especialista mundial em linguagem corporal analisa os gestos e tiques dos cinco principais candidatos das eleições legislativas Portuguesas.

Saiba como ler as mãos dos políticos, as expressões corporais e descodifique as suas mensagens escondidas com a ajuda de Collett:

"Os políticos têm uma tarefa difícil porque precisam de persuadir os eleitores de que são duros mas ao mesmo tempo amigáveis e sinceros. A linguagem corporal dos políticos é especialmente interessante porque, apesar de conseguirem controlar certos aspectos do seu comportamento, há determinadas acções (como as expressões faciais, gestos e tiques) que não conseguem dominar. E que oferecem aos eleitores uma janela para as suas mentes, onde é possível descobrir o que eles estão de facto a pensar e a sentir."


 

Jerónimo de Sousa (PCP)




Os políticos que gostam de passar uma impressão de força e determinação muitas vezes optam por gestos com os punhos cerrados. Aqui, Jerónimo de Sousa está a produzir uma versão com as duas mãos, o que lhe dá uma imagem de maior determinação.
O punho está relacionado com aquilo a que os zoólogos chamam de “aperto de força”: agarrar num objecto com todo os dedos permite tê-lo com mais segurança. E, quando estamos prestes a entrar numa luta, fechamos frequentemente as mãos. Isto prepara-nos para o ataque e transmite uma imagem assustadora para os adversários. É precisamente isso que os políticos querem quando fecham os punhos: parecer fortes, ameaçadores e preparados. O tipo de pessoa em quem os eleitores podem confiar para defender os seus interesses.


Francisco Louçã (Bloco de Esquerda)


Os políticos que gostam de estar no centro do palco e que não gostam de ser interrompidos levantam muitas vezes o seu dedo indicador. Quando duas pessoas estão a conversar e uma delas quer continuar a falar, ela mantém uma ou as duas mãos no ar para mostrar que quer ter o papel principal na discussão. Pelo mesmo princípio, os políticos que sentem que têm muita coisa para dizer, também mantêm as mãos no ar enquanto falam. Através dos gestos com os seus indicadores no ar, eles estão, inconscientemente, a atribuir autoridade à sua mensagem.
Muitos dos políticos que usam este gesto fazem-no apenas com uma mão. Francisco Louçã, contudo, optou pela versão com as duas. O que mostra que está duplamente preocupado em levar as suas lições importantes aos eleitores. E ainda mais preocupado com a possibilidade de ser desmentido.



José Sócrates (PS)

Os gestos são muitas vezes icónicos. Por outras palavras, a forma como colocamos os nossos dedos quando estamos a gesticular pode transmitir pistas importantes sobre aquilo em que estamos a pensar. Acontece o mesmo com os políticos. Quando eles estão a fazer um discurso ou a responder a questões, eles usam muitas vezes gestos que revelam o seu processo mental. Por exemplo, quando um político quer passar a ideia de que está em controlo da situação, colocam frequentemente as suas mãos para que pareça que estão a segurar numa bola invisível. E quanto maior for essa bola, maior é a sua importância. 
José Sócrates provavelmente não tem noção do que as suas mãos estão a fazer. Mas elas estão a enviar uma mensagem muito importante aos eleitores: ele é um guarda-redes de classe mundial que segura numa bola gigantesca. Com ele, o nosso futuro está garantido.


Pedro Passos Coelho (PSD)

A pitada é um gesto, em muitas formas, o oposto do punho. Em contraste com o “aperto de força” existe o “aperto de precisão”. Onde, por exemplo o polegar e o indicador são usados para pegar em algo delicado ou fino. Em termos evolucionais, o “aperto de força” precedeu o “aperto de precisão”.
Quando um político usa este tipo de gestos, como Passos Coelho está a fazer nesta imagem, eles criam automaticamente uma imagem na mente das outras pessoas de alguém que tem a capacidade e destreza para lidar com assuntos delicados. A imagem de alguém que não aplica a força bruta quando a inteligência é muito mais eficaz.


Paulo Portas (CDS)

Quando queremos mostrar que não sabemos alguma coisa encolhemos muitas vezes os ombros. Também usamos o mesmo gesto para mostrar às outras pessoas que a culpa não é nossa. É esta segunda característica do encolher de ombros que nos dá a pista essencial para perceber porque é que os políticos gostam tanto deste gesto. Eles gostam de ficar com os louros quando as coisas correm bem mas quando há problemas com a economia ou uma crise política, são muitas vezes os primeiros a recusar qualquer tipo de responsabilidade. 
Ao encolher os ombro, Paulo Portas está a fazer o mesmo que os políticos de todo o mundo fazem quando são encostados à parede: dizer que a culpa não é deles.
 

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